Racismo e xenofobia: os perigos do crescimento da extrema-direita em Portugal
- Letras Nómadas

- 19 de mar. de 2024
- 3 min de leitura
Reportagem no jornal The Guardian

| Fotografia de Sérgio Aires, no Podcast Fumaça |
Divulgamos a reportagem de Ashifa Kassam no Jornal The Guardian, acerca do impacto do crescimento da extrema-direita em Portugal, sobre as comunidades ditas 'minoritárias'. Esta reportagem conta com uma entrevista a Bruno Gonçalves, Vice-Presidente da Letras Nómadas AIDCC, com uma entrevista a Evalina Dias da Associação Djass e a Mahomed Iqbal da Comunidade Islâmica de Lisboa. O rescaldo eleitoral tem sido pautado por várias preocupações quanto ao aumento significativo do número de deputados do partido de extrema-direita Chega. As associações antirracistas têm vindo a manifestar publicamente as suas preocupações. Nesta reportagem, Evalina Dias, manifestou-se surpresa com o número de eleitores do Chega e enfatizou a necessidade de combate ao racismo em Portugal, sublinhando que o número elevado é representativo do número de pessoas racistas no país.
Bruno Gonçalves denunciou o discurso do presidente do Chega contra as comunidades ciganas e a forma como este discurso tem impactado negativamente os esforços positivos dos últimos anos a favor da integração. Destaca a forma como a ciganofobia foi um importante combustível para o crescimento inicial do partido, usando as comunidades ciganas como 'bodes expiatórios' para os problemas do país. Bruno ressalva, no final, que as comunidades ciganas vão defender-se do crescimento da extrema-direita com a mesma resiliência que sempre fluiu nas veias das comunidades ao longo de séculos. Por fim, Mahomed Iqbal expressa preocupação com a retórica anti-imigração do Chega e aponta para a necessidade e a importância do diálogo para combater o extremismo. Partilhamos a tradução desenvolvida pela Letras Nómadas AIDCC, a uma parte da reportagem do Jornal The Guardian: «(...) Mas o líder dos Socialistas, Pedro Nuno Santos, alertou o seu partido para não ignorar a mensagem que tinha sido enviada pelos mais de um milhão de pessoas que votaram no Chega. No domingo, disse: "Não é o caso de que 18% dos portugueses sejam racistas, mas há muitos portugueses chateados." [Evalina] Dias discorda. "Para a nossa associação, é como se os 1 milhão de votos que ele obteve fossem 1 milhão de votos racistas", diz ela.
A sua perspetiva é corroborada pelo constante fluxo de retórica que Ventura tem proferido desde que fundou o Chega há cinco anos. Em 2020, ele pediu que Joacine Katar Moreira, na altura uma das três deputadas negras no parlamento, fosse "devolvida ao seu próprio país", num post nas redes sociais que Ventura, mais tarde, descreveu como "obviamente irónico". Dias atribuiu o sucesso do Chega à falha do país em abordar adequadamente o racismo. "Não falamos sobre isso, não discutimos isso, os portugueses dizem: 'Ah nós não somos racistas,'" diz ela. Este vácuo tem tornado mais fácil para o Chega usar as diversas comunidades do país como 'bodes expiatórios' para os problemas do país, apesar dos dados mostrarem que os migrantes contribuem quase sete vezes mais para os cofres públicos do que recebem. Ventura inicialmente conquistou um nome nacional através de uma série de ataques sustentados contra a comunidade cigana, acusando-a de explorar os benefícios sociais e alegando que existe um "problema crónico" de "delinquência e violência" na comunidade. "Esta é uma grande mentira", diz Bruno Gonçalves das Letras Nómadas, uma organização de base que apoia a comunidade cigana. Mas Ventura tem capitalizado há muito tempo a animosidade do país em relação aos ciganos para obter ganhos políticos, diz ele. "Ele sabe que os ciganos são a primeira bandeira a agitar para subir a escada do ódio." Aproximadamente um terço das comunidades ciganas do país, de 50.000 pessoas, vive em habitações inadequadas e a sua esperança de vida é mais de uma década menor do que a dos outros portugueses, diz ele. "Sentimos o racismo diariamente", acrescenta Gonçalves. "Estamos aqui há cinco séculos e há muitas assimetrias que continuam a provocar situações de desiguadade." Apesar de tudo isso, as coisas tinham começado a melhorar nos últimos anos: os municípios tinham começado a incluir os ciganos nas suas políticas, foram lançadas iniciativas de educação e foi apresentada uma estratégia nacional para a integração dos ciganos.
Mas, à medida que o Chega intensificava os seus ataques, esses esforços pararam. Gonçalves acredita que os políticos começaram a ficar nervosos em trabalhar com a comunidade. "Eles têm medo de perder votos", diz ele. "Havia coisas realmente boas que estavam a ser desenvolvidas, mas com o Chega, as coisas pioraram muito, muito mais." (...)» A reportagem integral, em inglês: https://www.theguardian.com/world/2024/mar/19/portuguese-communities-on-the-rise-of-far-right-chega Link da fotografia de capa no Podcast Fumaça: https://fumaca.pt/pimenio-ferreira-sobre-as-comunidades-ciganas-em-portugal/






