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16 de maio - Dia da Resistência Roma

  • Foto do escritor: Letras Nómadas
    Letras Nómadas
  • 16 de mai. de 2024
  • 3 min de leitura

Ribaltambição AIGCC

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Delegação portuguesa na cerimónia do Dia da Resistência Roma, Ribaltambição

Hoje, dia 16 de maio, assinalam-se 80 anos desde o Dia da Resistência Roma, em 1944. Apesar deste dia remeter para um episódio ocorrido durante o Holocausto "invisível" – o Holocausto Roma –, este é também um dia de celebração, pois evoca a resistência heróica dos prisioneiros ciganos do "Campo Cigano" ("Zigeunerlager"), uma seção do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, contra as forças nazis das SS, que planeavam executar todas as famílias do campo, naquele mesmo dia.


Após alguns prisioneiros do "Zigeunerlager" terem ouvido rumores sobre a data da operação de desmantelamento e de liquidação total da sua seção, espalharam a notícia e prepararam a sua defesa. Para evitarem o destino nas câmaras de gás, os seis mil que se encontravam detidos naquela seção, destinada apenas às famílias ciganas, armaram-se com todo o tipo de ferramentas, enxadas, talheres, pregos e pedaços de madeira dos próprios estrados onde dormiam nas suas casernas. Barricaram-se no seu interior, ignoraram as ordens das SS para evacuarem e ofereceram uma resistência tão forte que os forçaram a recuar e a abandonar o "Campo Cigano" durante três meses. Porém, durante este período, não tiveram acesso a qualquer tipo de alimentos.

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Ruínas do crematório IV, para onde foram enviados os prisioneiros do "Campo Cigano", Ribaltambição

Esfomeados e enfraquecidos, não puderam mais oferecer resistência e, na noite de 2 de agosto do mesmo ano, conhecida como "A Noite dos Ciganos" ou Samudaripen – 'genocídio' em romani – 2986 pessoas foram enviadas para as câmaras de gás e incineradas num dos crematórios e numa vala comum nas suas imediações, devido ao seu elevado número. Os únicos sobreviventes foram apenas aqueles que ainda se encontravam aptos para o trabalho.


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Monumento de homenagem, sobre a vala comum onde muitos foram incinerados, Ribaltambição

O extermínio de pessoas ciganas durante o Holocausto – usa-se o termo Holocausto Roma para sublinhar o elevadíssimo impacto histórico contra as pessoas Roma/ciganas, nomeadamente do grupo Sinti – apenas foi reconhecido internacionalmente, pela primeira vez, no Primeiro Congresso Mundial Roma, nos dias 7 e 8 de abril de 1971, 26 anos depois deste período da história. Além deste reconhecimento, no congresso, que reuniu delegações Roma de vários cantos do mundo, foi instaurado o dia 2 de agosto como o dia do Holocausto Roma, foi acordada a autodenominação Roma que deriva da palavra rom, 'ser-humano' em romani – para as pessoas ciganas e também uma bandeira e um hino próprios. Somente em 1982, 37 anos depois, é que a tentativa de genocídio, que vitimou entre meio milhão e um milhão e meio de pessoas ciganas, foi pela primeira vez reconhecido por um Estado, no caso, o Estado Alemão.


Todos os anos, delegações de pessoas Roma/ciganas de vários cantos da Europa e do mundo, deslocam-se ao campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau para honrar a memória daqueles que combateram neste dia e de quem perdeu a vida durante todos aqueles anos. Em maio de 2023 tivemos a oportunidade de participar numa destas cerimónias, em Auschwitz-Birkenau, no âmbito da nossa participação no Projeto TRACER (Transformative Roma Art and Culture for European Remembrance), financiado pela Comissão Europeia.

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Delegação portuguesa em Auschwitz-Birkenau, Projeto Tracer

Trata-se de um projeto que reúne grupos jovens e adolescentes ciganos e não-ciganos, de Itália, Portugal e Polónia para (re)construir uma memória partilhada sobre o Holocausto Roma. A nossa delegação portuguesa de jovens líderes pôde visitar e conhecer este campo de extermínio e os vários museus que registam esta história. Para saber mais e receber notícias acerca do desenvolvimento do Projeto TRACER: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfiNze9PJjcQDyE6jXnF20dsCRjle_TkhvTYtdSa5zYOwMofw/viewform

Website do Projeto TRACER: https://tracerproject.eu/pt-pt


Fontes bibliográficas: BÁRSONY, János & DARÓCZI, Ágnes, Pharrajimos: The Fate of the Roma During the Holocaust, The International Debate Education Association, 2007

GONÇALVES, Bruno, Conhece-me antes de me Odiares: Notas sobre a História e Cultura Cigana, Ribaltambição - Associação para a Igualdade de Género nas Comunidades Ciganas, 2013


HUTTENBACH, Henry R. “The Romani porajmos: The nazi genocide of Europe’s gypsies”, Nationalities Papers: The Journal of Nationalism and Ethnicity, 19(3) pp. 373-394, 1991

 
 
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