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Eu não sinto que ser cigana me tenha silenciado ou tornado uma vítima, na realidade, é o contrário!

  • Writer: associacaoletrasno
    associacaoletrasno
  • Oct 5
  • 3 min read

Verónica Silva

Curso / Universidade: Licenciatura em Som e Imagem, Escola Superior de Artes e Design Caldas da Rainha


2. Percurso Académico

O que a motivou a seguir o ensino superior?

R: Desde sempre que tive o sonho de seguir o ensino superior mas acreditava que não era uma possibilidade. Quando comecei o secundário encontrei um gosto especial pela área em que estou e o desejo de seguir os estudos tornou-se ainda maior. Ver que havia mais jovens ciganos a estudar na faculdade motivou-me muito e as pessoas ao meu redor deram-me muita força para continuar.

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Quais foram os maiores desafios que encontrou até chegar aqui?

R: Eu diria que o maior desafio fui eu mesma. Punha muita pressão em mim mesma porque tinha medo de não ser capaz de conquistar os meus objetivos. Sentia que por ser cigana precisava de ser das melhores para provar que conseguia conquistar os meus objetivos e que merecia os meus feitos.


3. Experiência no Ensino Superior

Como tem sido a sua experiência enquanto jovem cigana na universidade?

R: Muito Boa. Tive dificuldade na adaptação visto que era a primeira vez que estava longe da família numa cidade que ainda não conhecia com pessoas que também não conhecia. Hoje em dia fico grata pela escolha que fiz e pelas pessoas que conheci.


Sente-se integrada na comunidade académica?

R: Sim. Estou numa escola de artes onde a diferença é vista como uma qualidade. Ambos professores e colegas ficam curiosos com a minha cultura e eu fico feliz em poder quebrar estereótipos.


4. Identidade e Cultura

De que forma a sua identidade cigana influencia a sua vida académica?

R: Sinto que a minha identidade cigana influencia a minha vida academica tanto de forma desafiante como de forma enriquecedora. A comunidade cigana teve historicamente o acesso ao ensino superior muito limitado, por isso, o facto de estar no ensino superior já uma quebra de padrões e uma conquista pessoal e coletiva.

É com essa mentalidade que carrego sempre comigo os valores da minha comunidade como o respeito pelos mais velhos e o sentido de união. O facto de saber que me represento não só a mim mas também ao resto da minha etnia dá-me uma motivação extra. Estudo não só por mim, mas pelas gerações passadas que não tiveram esta oportunidade e pelas futuras que, espero, possam ver a minha trajetória como um exemplo positivo.


Já sentiu preconceito ou estereótipos no meio universitário?

R: Nunca senti um preconceito que fosse direcionado especificamente a mim no meio universitário, mas senti várias vezes a estereotipização da comunidade em geral. Já me chegaram a perguntar se não me iriam obrigar a casar ou se teria de desistir da faculdade se tivesse um noivo, como se os estudos e a tradição não pudessem coexistir. As pessoas consideram-me regularmente uma “vítima” da minha cultura e quando se trata de falar da minha comunidade dizem-me que “eu não conto” porque não me enquadro nos estereótipos preconceituosos que a sociedade criou. Queria que as pessoas conseguissem ver as minhas origens como eu vejo. Eu não sinto que ser cigana me tenha silenciado ou tornado uma vítima, na realidade, é o contrário. Acredito que a minha história e a minha cultura só me empoderam e fizeram-me querer chegar longe.


5. Inspiração e Futuro

Que mensagem gostaria de deixar a outros jovens ciganos que pensam em prosseguir os estudos?

R: Queria pedir aos jovens ciganos que acreditem neles mesmos e que saibam que é possível conquistarem os seus objetivos. Queria também que saibam que se um dia precisarem de ajuda para encontrar o seu caminho não devem ter medo de nos contactar. Tenho a certeza que qualquer jovem cigano que está neste momento na faculdade ou já concluiu o ensino superior teria todo o gosto em ajudar outros jovens que se identificam connosco e nos veem como um exemplo.


Quais são os seus sonhos e objetivos para o futuro?

R: No futuro gostaria de conhecer o mundo e usar os conhecimentos que tenho vindo a adquirir para explorar a minha criatividade e usá-los como ferramenta de mudança na nossa sociedade.

 
 
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