Diego El Gavi, Cantor de Flamenco e Mediador Intercultural
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Diego El Gavi
Cantor Flamenco e Mediador Intercultural
1. Pode contar-nos um pouco sobre as suas origens e o ambiente em que cresceu?
R: Cresci no seio de uma família cigana tradicional que esteve desde sempre ligado ao ramo do vestuário, sobretudo o meu avô materno, um homem com posses que nos fez crescer com valores não só materiais, mas com respeito e dignidade para com toda a gente cigana e não cigana.
2. Como surgiu o seu interesse pelo flamenco e quem foram as suas principais influências?
R: A minha primeira influência, sem dúvida, foram os Gipsy Kings, depois anos mais tarde, quando descubro o flamenco sem dúvida, o Camaron, o Paco de Lúcia, o Tomatito, o Duquende, o Vicente Amigo e poderia enumerar muitos mais.
3. Que papel teve a sua família e a cultura cigana no seu percurso artístico?
R: Toda! Porque a música que eu canto é Worldmusic, mas a base da minha voz é cigana Flamenca, basta o primeiro ayyy! A família é um complemento que traz o dia a dia para o cante, às vezes cantamos alegrias, outras vezes tristezas, mas a pureza está lá!
4. O que representa para si o flamenco — é apenas arte ou também uma forma de expressão identitária e resistência?
R: Para mim o Flamenco é tudo e onde está a verdade, quando canto tento sempre passar alguma mensagem, se houver alguém que se sinta tocado pelo meu cante, aí fiz um bom trabalho, é a minha forma de expressão.

5. Há temas ou mensagens que procura transmitir através da sua música?
R: Acho que a resposta está em cima, como me referi, o melhor cachê e ver gente a agradecer com um sorriso ou até com um simples olhar.
6. Pode destacar algum projeto, concerto ou colaboração que tenha sido especialmente marcante na sua carreira?
R: Tanto que a música já me deu não seria sensato lembrar só um, foram todos de alguma maneira especiais.
7. Que desafios encontra um artista cigano no mundo da música em Portugal e em Espanha?
R: Portugal está a começar a abrir lentamente um pouco mais para a música cigana, mas ainda são muito poucos os que vamos sobrevivendo desta arte, vamos esperar e ver o que o futuro nos reserva.
8. Além de cantor, é também mediador intercultural. Como concilia estas duas dimensões — a arte e o trabalho social?
R: Bem às vezes chego a casa esgotado. Mas quem corre por gosto não cansa devo confessar, é bem mais difícil a de mediador sem dúvida! Não e fácil mudar mentalidades da noite para o dia mas é desafiante, eu como costumo dizer, se me vou meter tenho de fazer bem, se assim não for, não quero!
9. Que tipo de projetos ou ações desenvolve como mediador intercultural?
R: Eu estou com três pilares: a educação, saúde e ação social, mas incido o meu trabalho a nível educativo. Tento desenvolver projetos para diminuir o abandono escolar precoce, não é fácil estimular os alunos ciganos e dizer-lhes que a escola é o futuro e uma porta de saída para o mercado de trabalho, que sem estudos é mais difícil.
10. Quais são, no seu entender, as maiores barreiras que a comunidade cigana ainda enfrenta na sociedade portuguesa?
R: A generalização! Um cigano faz mal, todos os ciganos são maus?
Temos de separar as águas, culpa-se a pessoa que fez o mal, não todos ciganos, temos de acabar com esse preconceito.
11. A arte pode ser uma ferramenta eficaz para promover o diálogo e combater os preconceitos? Pode dar-nos algum exemplo concreto?
R: Obviamente que sim, se assim não fosse, não estaria como mediador na Câmara Municipal de Sintra! Foi através de um concerto, que me foi dada essa oportunidade, e a música ou a arte tem essa virtude de derrubar "muros".
12. Que mensagem gostaria de deixar aos jovens ciganos que sonham seguir uma carreira artística ou trabalhar pela sua comunidade?
R: Na música a persistência, não deixem de sonhar, e quantos mais "nãos" mais fortes têm de ser! Só lá vamos quando acreditamos que temos um grande produto para vender.
13. Que projetos futuros tem — tanto na música como na área social?
R: Estou a preparar um segundo disco com muita ilusão, como produtor vou ter o Maestro Pedro Jóia, o Paco de Lúcia em Portugal!
Na área social, até ao fim do ano, vamos implementar nas escolas o Projeto "Os Flamenquitos de Sintra", e talvez com sorte, vamos ter duas auxiliares ciganas nas escolas!

14. Como imagina o futuro da cultura cigana e do flamenco em Portugal?
R: A música cigana acho que tem "pernas para andar", estão a aparecer novos talentos, o que é bom! Quanto aos velhos do Restelo, que é o meu caso, vou fazer o Flamenco de sempre, aquele que eu gosto cantar, sem filtros nem redes! Gosto muito do flamenco tradicional e cantar com o público juntinho de mim. A cultura nunca se vai perder, agora temos de acompanhar a mudança do mundo, ter algum cuidado com o que aí vem, ter esperança e resiliência que é a palavra que mais caracteriza as comunidades ciganas através dos séculos.





