top of page
Search

Betina - A Dinamizadora! "Ser cigana dá-me a oportunidade de representar a minha cultura de forma positiva"

  • Writer: associacaoletrasno
    associacaoletrasno
  • 28 minutes ago
  • 8 min read

Percurso pessoal e profissional 1. Pode contar-nos um pouco sobre o seu percurso até chegar ao

Nome: Elisabete Monteiro

Idade: 20 anos

Localidade: Vila Nova de Famalicão bairro (Meães)

Função no projeto Escolhas: Dinamizadora Comunitária na PASEC (Eurobairro Underground)

 

1. Pode contar-nos um pouco sobre o seu percurso até chegar ao projeto Escolhas?

Desde muito nova que participo no Projeto Eurobairro. Sempre fui uma participante muito ativa gostava de estar envolvida em tudo, tinha um bom comportamento, estudava e era uma menina cheia de sonhos. Encarava as dificuldades da vida de forma diferente, com vontade de crescer e de fazer mais.

Quando completei 18 anos, a coordenadora do projeto, Tânia Oliveira, falou-me de uma candidatura e ajudou-me a concorrer. Foi assim que passei a conhecer o outro lado do projeto o lado de quem trabalha e apoia a comunidade.

 

Betina Monteiro com Vanessa Matos (dinamizadora de antigas gerações do Projeto Escolhas Geração Tecla)
Betina Monteiro com Vanessa Matos (dinamizadora de antigas gerações do Projeto Escolhas Geração Tecla)

2. O que a motivou a tornar-se dinamizadora comunitária?

A minha motivação para me tornar dinamizadora comunitária surgiu, em primeiro lugar, da vontade de conhecer o outro lado do projeto Eurobairro, que desde cedo me apoiou e incentivou. Participar neste projeto ajudou-me a valorizar os estudos, a reconhecer a importância das pequenas conquistas e a acreditar que podemos ser aquilo que desejamos, independentemente da nossa origem, cor ou cultura. Quis provar a mim mesma que sou capaz de alcançar tudo aquilo a que me proponho, sem permitir que estereótipos ou preconceitos como “não vais conseguir porque és cigana” me definam ou limitem. Além disso, pretendia ser independente e servir de exemplo para a comunidade e para as novas gerações, mostrando que é possível sonhar e, ao mesmo tempo, realizar. Acredito que, mesmo pertencendo a uma cultura diferente, podemos escolher caminhos distintos e construir um futuro positivo e inspirador.

 

3. Que tipo de formação ou experiências anteriores a ajudaram neste trabalho? Antes de me tornar dinamizadora, não tive formações específicas para este trabalho. Fui, na verdade, participante do projeto desde muito nova uma jovem que estudava e se envolvia em todas as atividades. O trabalho no Eurobairro foi o meu primeiro emprego, mas ao longo da minha trajetória no projeto tive várias oportunidades de participar em experiências, cursos e formações que me ajudaram a compreender melhor o funcionamento e os objetivos do projeto. O facto de ter sido participante foi, sem dúvida, uma grande vantagem, porque me permitiu perceber de perto o que os jovens sentem em relação aos técnicos e às atividades. Esta experiência direta ajudou-me a desenvolver empatia, compreensão e uma abordagem mais próxima e eficaz no meu trabalho como dinamizadora.

 

4. Quais são as principais atividades que desenvolve no dia a dia com a comunidade?

No meu dia a dia como dinamizadora no Eurobairro, desenvolvo uma variedade de atividades com diferentes grupos e em vários bairros: Segunda-feira: Teatro no bairro das Bétulas. Terça-feira: Artes plásticas, incluindo pintura e desenho, e jogos no bairro da Cal. Quarta-feira: Escola aberta, ajudando os jovens com os trabalhos de casa, no bairro da Cal. Quinta-feira: Escola aberta durante a primeira parte do dia e jogos na segunda parte, no bairro de Meães. Sexta-feira: Dança cigana e outros estilos de dança nos bairros das Lameiras e Meães Para além destas atividades regulares, participo em intervenções escolares, trabalhando atualmente com turmas do 3.º, 4.º e 6.º anos. Também organizo e participo em atividades mensais propostas pelo Programa Escolhas, como desafios, seminários, feiras de jogos e outras iniciativas que promovem o envolvimento e a inclusão da comunidade.

 

5. Que grupos acompanha mais de perto (crianças, jovens, mulheres, famílias…)?

No meu trabalho como dinamizadora, acompanho atividades nos quatro bairros e também nas escolas da zona de Vila Nova de Famalicão. No entanto, sigo mais de perto a comunidade do bairro onde moro, Meães, mantendo uma presença constante e próxima. Trabalho essencialmente com crianças e jovens, apoiando-os nas atividades educativas, culturais e lúdicas, e procurando sempre criar um vínculo de confiança e acompanhamento personalizado. Além disso, desenvolvo trabalho de rua, acompanhando as famílias dos participantes do meu bairro, para apoiar e reforçar o envolvimento das famílias na vida dos jovens e na comunidade.

 

6. Que desafios encontra no seu trabalho?

No início do meu trabalho como dinamizadora, sentia algum receio de não ser levada a sério, devido ao facto de ter sido participante do projeto. Tinha receio que não me respeitassem na nova função, mas, na realidade, senti ainda mais respeito e reconhecimento por parte da comunidade. Outro desafio inicial estava relacionado com a deslocação entre os diversos bairros, uma vez que as atividades não acontecem num único espaço e, na altura, eu ainda não tinha carta de condução. Atualmente, este obstáculo já não existe, pois já obtive a carta. Além disso, trabalho com jovens de diferentes bairros, onde por vezes surgem dificuldades de convivência, especialmente devido a rivalidades relacionadas com o futebol. Este é um desafio constante, mas, com o tempo, aprendemos a criar estratégias e soluções que promovem o diálogo, o respeito e a boa convivência entre todos. Um desafio adicional que enfrentamos é o desinteresse de alguns participantes mais velhos, que nem sempre se sentem motivados pelas atividades programadas. Para contornar esta situação, adaptamos regularmente as atividades, procurando envolver todos de forma geral e garantindo que cada jovem se sinta incluído e interessado nas dinâmicas propostas.

 

7. Que tipo de resultados ou mudanças positivas tem observado desde que começou a trabalhar no projeto?

Desde que comecei a trabalhar no Eurobairro, tenho observado várias mudanças positivas, tanto nos jovens como nas famílias da comunidade. Nos jovens, noto um aumento da participação, confiança e colaboração. Eles mostram maior interesse pelas atividades educativas, culturais e desportivas e sentem-se mais à vontade para expressar as suas ideias e sentimentos. No caso das famílias, o trabalho de rua tem sido fundamental para fortalecer a ligação entre pais e filhos, promovendo maior envolvimento na vida escolar e nas atividades do bairro. Enquanto dinamizadora, o projeto trouxe-me um grande crescimento pessoal e profissional. Desenvolvi competências de comunicação, empatia e liderança, aprendi a lidar com desafios complexos e sinto que o meu trabalho contribui para que a comunidade reconheça novas possibilidades, promovendo inclusão, respeito e confiança entre todos.

 

 

ree

 

8. De que forma o facto de ser cigana influencia o seu trabalho e a relação com a comunidade?

O facto de ser cigana tem uma influência muito positiva no meu trabalho como dinamizadora e na forma como me relaciono com a comunidade. Permite-me criar uma ligação de confiança e proximidade com os jovens e famílias, porque eles sabem que compreendo as suas experiências, desafios e sentimentos. Ser cigana dá-me também a oportunidade de representar a minha cultura de forma positiva, mostrando que é possível crescer, estudar e desenvolver competências sem perder a identidade cultural. Isso ajuda a combater estereótipos e a inspirar os jovens a acreditar nas suas próprias capacidades. Além disso, sinto que o meu papel serve como exemplo dentro da comunidade, mostrando que, independentemente da origem, podemos assumir responsabilidades, participar ativamente na sociedade e contribuir para o bem-estar do bairro. Por exemplo, em várias atividades de verão realizadas fora do projeto ou da zona dos jovens, a maioria dos pais deixava os filhos ir por minha recomendação, por me conhecerem, confiarem em mim e por eu ser parte da comunidade cigana.

 

Betina com o seu noivo
Betina com o seu noivo

9. Sente que é vista como uma referência ou exemplo dentro da comunidade?

Sim, sinto que sou vista como uma referência dentro da comunidade. O meu percurso, desde participante até dinamizadora, faz com que muitos jovens e famílias me vejam como um exemplo positivo quanto a nossa cultura. Ser cigana e estar presente em várias atividades do Eurobairro, assim como no trabalho de rua com as famílias, fortalece esta perceção. Muitos jovens confiam em mim e procuram o meu apoio mesmo fora do horário de trabalho, pedindo ajuda para estudar para testes, realizar trabalhos de casa, praticar leitura e escrita. Alguns chegam a dizer: “Um dia quando crescer quero ser como tu.” Respondo sempre: “Serás melhor e maior que eu, basta acreditares e estudares.” Este contacto mostra-me que tenho influência positiva nos jovens mais novos, ajudando-os a gostar mais dos estudos e a acreditar nas suas capacidades. Além disso, os pais sentem segurança em deixar os filhos participarem nas atividades, sabendo que compreendo a realidade da comunidade e que posso acompanhá-los de forma responsável. Sinto-me motivada a continuar a inspirar e apoiar os jovens, mostrando que é possível alcançar objetivos, desenvolver competências e contribuir positivamente para a comunidade, independentemente da origem ou cultura.

 

10. Que importância tem, para si, poder representar e apoiar outras pessoas ciganas neste contexto?

Para mim, este projeto representa a minha vida inteira. Sou quem sou hoje graças às oportunidades, aprendizagens e experiências que o Eurobairro / Programa Escolhas me proporcionou. Poder representar e apoiar outras pessoas ciganas é muito importante, porque sinto que o meu percurso e o meu trabalho refletem o que o projeto me deu. Cada ação que realizo, cada jovem que acompanho e cada família com quem trabalho são, de certa forma, o reflexo do impacto que o projeto teve na minha própria vida. Sinto-me motivada a inspirar os outros, mostrando que é possível crescer, aprender, superar desafios e contribuir positivamente para a comunidade, mantendo a nossa identidade cultural. O facto de poder ajudar outras pessoas ciganas é, para mim, uma forma de retribuir tudo aquilo que recebi e de construir um futuro melhor para a comunidade.

 

11 Que conselhos daria a jovens ciganos e ciganas que gostariam de participar em projetos como o Escolhas?

O meu conselho é que não tenham medo de acreditar em si mesmos e de agarrar as oportunidades que surgem. Participar em projetos como o Escolhas permite aprender, crescer, conhecer outras pessoas e descobrir novas formas de lidar com os desafios da vida. É importante participar ativamente, estar aberto a aprender e a experimentar novas atividades, mesmo que pareçam difíceis ou fora da zona de conforto. Cada experiência conta e pode ajudar a construir competências, confiança e motivação para alcançar os próprios objetivos. Também diria que a cultura e a origem não são um obstáculo, mas sim uma força. Ser cigano ou cigana não impede ninguém de sonhar, estudar, trabalhar e realizar-se. Com esforço, dedicação e confiança, é possível tornar sonhos realidade e inspirar outros à volta. Não tenham vergonha de mostrar de onde vieram e de quem são, e nunca escondam a sua origem. Ser cigano ou cigana não impede ninguém de sonhar, estudar, trabalhar e realizar-se. Nunca desistam, porque com esforço, dedicação e confiança, é possível tornar sonhos realidade e inspirar outros à volta.

 

12. Que sonhos ou objetivos tem para o futuro pessoais e profissionais?

O meu maior sonho é continuar a crescer e a evoluir, tanto a nível pessoal como profissional. Quero continuar a aprender, a melhorar e a mostrar aos jovens da minha comunidade que é possível chegar longe, mesmo quando o caminho parece difícil. Profissionalmente, gostava de continuar a estudar, aprender e a desenvolver mais conhecimentos como o ensino superior ou na área do direito ou continuar a trabalhar na área social, a ajudar crianças, jovens e famílias a acreditarem em si mesmas e a lutarem pelos seus objetivos. O projeto em si é muito importante para mim, faz parte da minha história e ajudou-me a descobrir o que realmente gosto de fazer. No futuro, quero também continuar a estudar e a apostar na minha formação, como por exemplo no inglês , viajar e conhecer outro tipo de culturas e costumes, para poder crescer ainda mais e ter mais ferramentas para ajudar os outros. O meu objetivo é continuar a inspirar e a mostrar que os sonhos só se tornam impossíveis quando desistimos deles.

 

 

13. Há alguma mensagem que gostaria de deixar à sociedade sobre o papel das mulheres ciganas e da comunidade cigana em geral?

Quero que a sociedade veja que as mulheres ciganas também têm sonhos, força e capacidade para conquistar o que querem. Somos mulheres com força, com vontade de mudar e de mostrar que podemos ser diferentes sem deixar de lado quem somos. Ser cigana não é um limite, é parte da minha identidade e do meu orgulho. Muitas vezes olham para nós com preconceito, mas o que quero mostrar é que também estudamos, trabalhamos, ajudamos e lutamos pelos nossos objetivos. Às mulheres e raparigas da minha comunidade, quero dizer para nunca terem vergonha da vossa origem. Acreditem em vocês, lutem, estudem e nunca desistam dos vossos sonhos. Podemos ser o que quisermos, basta acreditar e trabalhar para isso. E à sociedade, só peço respeito e igualdade, porque no fim, todos merecemos as mesmas oportunidades ciganos ou não, somos todos pessoas.

 
 
bottom of page